Numa longa (e cara) corrida
de táxi em Orlando-FL há cerca de um mês, em meio a uma conversa com o taxista,
um culto senhor de já avançada idade, o que ouvi sobre a realidade da advocacia
Americana de certa forma me consternou.
Quando conversamos com alguém
sobre um assunto sério que requer certo conhecimento, inclusive de termos técnicos,
percebemos quando o interlocutor fala com propriedade ou quando o mesmo se
aventura em assuntos que é totalmente leigo.
No caso, o senhor
taxista, cujo nome infelizmente não me recordo, mostrou ser bom conhecedor da (triste)
realidade da advocacia Americana, em especial na Flórida.
Segundo ele, advogados por
lá, em geral, são conhecidos como “ambulance
chasers” (algo como “perseguidores de ambulância”) por suas práticas nada
ortodoxas de conseguir clientes. O termo equivale ao nosso “advogado de porta
de cadeia”, bastante pejorativo. Devido a uma grande e forte indústria do dano
moral, onde um tropeço no supermercado pode lhe render alguns milhares de dólares,
e a livre publicidade para advogados, estes não medem esforços para atrair
clientes.
Exemplo claro disso são
os anúncios espalhados pelas estradas e ruas da Flórida com telefones de
advogados e dizeres como “Car accident? Call us anytime” (Acidente de carro?
Nos ligue a qualquer hora). Cartazes, outdoors, painéis, faixas, banners, etc são
vistos por todos os lados, até incentivando o cidadão a acionar a justiça. É
uma prática aqui considerada vil e repudiável.
O senhor
taxista frisou que a classe advocatícia perdeu a credibilidade por lá, por mais
que existam, obviamente, profissionais sérios e confiáveis. Mas, de um modo
geral, chacotas e críticas prevalecem quando se fala deste profissional do
Direito na terra do Tio Sam, primordialmente, como me foi dito, no Sul –
Flórida.
Por aqui, existem também advogados de conduta
duvidosa, é claro. Mas nem de perto nossa classe advocatícia é vista com o
mesmo desdém pelo cidadão, que ainda confia e acredita.
Por viver a realidade da profissão, sei que a classe é respeitada, por mais que
vez ou outra haja alguma brincadeira ou comentário depreciativo sobre
advogados.
Grande parte disso se deve ao rigoroso controle
que a OAB faz da publicidade para advogados e escritórios, com fortes restrições
e normas bem criteriosas. O Código de Ética e Disciplina da OAB regula, por
exemplo, em seu artigo 30, a proibição do uso de outdoors e equivalentes; no
artigo 31, veda o uso de fotografia, ilustrações, cores, figuras, desenhos,
logotipos, marcas ou símbolos incompatíveis com a advocacia, e veda ainda a
remessa de correspondência a uma coletividade.
Deixemos as práticas espúrias e os anúncios esdrúxulos
para os advogados de lá, e por aqui, continuemos alimentando o sentimento de
seriedade, honestidade e confiança nos profissionais do Direito, que a despeito
de qualquer crítica, são imprescindíveis para manutenção da ordem no Estado
democrático.
E vocês, pretensos clientes, saibam que nós
advogados estamos prontos e preparados para atendê-los sempre, por mais que não
vejam outdoors espalhafatosos com nossas fotos e telefones.
Na dúvida, procure seu advogado.
Thiago Pena
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